Sócrates sem dúvida foi uma figura icônica da Grécia antiga. Seu modo questionador de ver o mundo gerou grande clamor popular e sua injusta condenação à morte se tornou um marco histórico. Mas a filosofia seguiu seu percurso com novos pensadores,e por isso foram surgindo novas linhas de pensamentos como o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo.
O que é a Filosofia Estoica?
O estoicismo é uma antiga escola de filosofia que valoriza a virtude como o bem supremo, incentivando a autodisciplina, aceitação do destino e controle emocional. A busca pela eudaimonia, ou realização, é alcançada através do desenvolvimento moral e da sabedoria. Os estóicos enfatizam a indiferença às coisas externas, a aceitação do destino e a prática da atenção plena. Este sistema filosófico influenciou pensadores notáveis e continua a ser uma fonte de inspiração para a filosofia prática e o desenvolvimento pessoal.
Quatro virtudes do estoicismo
A filosofia estóica destaca quatro virtudes fundamentais, conhecidas como as “quatro virtudes cardeais”. Essas virtudes são consideradas como guias para uma vida ética e significativa. São elas:
Sabedoria (Sophia)
A sabedoria é vista como a capacidade de discernir o que é verdadeiro, justo e valioso. Envolve a busca pela compreensão profunda da natureza humana e das leis universais que regem o cosmos.
Coragem (Andreia)
A coragem no estoicismo não é apenas a bravura física, mas também a resistência emocional diante das adversidades. Os estóicos enfatizam a importância de enfrentar desafios com serenidade e firmeza.
Justiça (Dikaiosyne)
A justiça está relacionada ao tratamento igual e justo de todas as pessoas. Os estóicos defendem a ideia de que todos os seres humanos fazem parte de uma comunidade global e, portanto, devem agir com equidade e benevolência.
Temperança (Sophrosyne)
A temperança envolve o autocontrole e a moderação. Os estóicos buscam equilibrar seus desejos e paixões, evitando excessos e mantendo a serenidade mesmo diante das tentações.
Essas virtudes cardeais são consideradas pelos estóicos como a base para uma vida ética e feliz. Ao cultivar essas qualidades, os praticantes do estoicismo buscam alcançar a eudaimonia, que é a realização plena e significativa da vida. Essas virtudes oferecem orientação prática para enfrentar os desafios da existência com sabedoria, coragem, justiça e temperança.
O nascimento do estoicismo
Inicialmente, o estoicismo era tido como uma escola marginal. Seu percursor, Zenão, era estrangeiro e por conta disso a “elite” da Grécia não o enxergava com bons olhos. As aulas eram ministradas de baixo das stoás, isto é, das grandes construções atenienses que serviam de porta de entrada dos ambientes. O estoicismo teve figuras importantes como o escravo Epicteto, que foi postumamente liberto, Crisipo de Solis e o grande imperador Marco Aurélio.
A Natureza e o Cosmos
Os gregos enxergavam o mundo de uma maneira muito particular. Eles eram verdadeiramente aficcionados pela natureza e suas manifestações exuberantes: os astros e o pôr do sol, os mares e as ondas, o plantio, o crescimento e desenvolvimento das plantas, o nascimento da vida e a morte, e assim por diante.
É a partir dessa admiração pela natureza que os estoicos identificam uma certa harmonia inerente, ou seja, eles acreditavam que existe uma força, chamada de Cosmos, responsável por trazer harmonia e ordem ao mundo. Chega a ser difícil imaginar tal pensamento nos dias atuais, pois vivemos em grandes metrópoles e estamos afastados da natureza, todavia os gregos estavam em contato direto com ela.
Desta forma, o Cosmos é uma força perfeita que traz ordem e harmonia ao mundo, mas como nós, seres humanos, somos pequenos diante a imensidão do universo (Cosmos), não somos capazes de compreender de forma completa e o porquê acontecem certos eventos, como uma tempestade por exemplo. Porém, nós somos capazes de entender parcialmente o comportamento do Cosmos, e é a partir dessa compreensão que nascerá a filosofia estoica: adotar um modo de viver se espelhando num ordenamento e harmonia natural do Cosmos.
Filosofia Estoica e Angústia
Observando a natureza, percebemos que nada perdura-se no tempo e que tudo está em constante mudança. A vida tem prazo de validade, as árvores nascem, crescem e morrem. E esse ciclo não depende das vontades humanas.
O estoicismo irá entender que na vida humana os eventos são transitórios e muita das vezes incontroláveis. De fato, durante a vida, situações agradáveis e desagradáveis acontecem a todos, mas o que determina a origem da angústia é a tentativa de controlar uma situação desagradável que é incontrolável.
A raiz do pensamento é que não podemos controlar as pessoas, e por muitas vezes suas reações. Ficar muito preocupado por não ter conseguido agradar alguém, como seu chefe, ou algum determinado grupo social, te afasta de focar no que verdadeiramente importa, ou seja, no que é controlável.
Identificar situações que não dependem de nossa atuação é um passo primoroso para lidar com o sentimento de angústia, eis palavras de Epicteto:
“A principal tarefa na vida é simplesmente esta: identificar e separar questões de modo que eu possa dizer claramente para mim mesmo quais são externas, fora do meu controle, e quais têm a ver com as escolhas sobre as quais eu, de fato, tenho controle. Onde, então, devo buscar o bem ou mal? Não em externos incontroláveis, mas dentro de mim mesmo, nas escolhas que são minhas”.
Passado, presente e futuro
E por falar em eventos incontroláveis, o passado e o futuro são uma bela fonte de angústia. O passado é morto por natureza, pois os eventos que vivemos não podem ser vividos novamente, apenas relembrados. A recordação do passado nos afasta do presente. Sendo assim, o passado é incontrolável, assim como boa parte de nosso futuro.
Quantos planos não tínhamos quando mais novos e quantos deles não se concretizaram? Já é comprovado pela neurociência que nossa capacidade de projetar futuros de forma assertiva é extremamente falha. Não damos conta de planejar tantas variáveis que ocorrem nas nossas experiências.
Logo, se não podemos mudar o passado, nem planejar de modo seguro o futuro, nos resta o presente. É no agora que reside toda capacidade de ação, é onde existe uma possibilidade de escolha que podemos controlar.
“É preciso realizar cada ação da vida como se fosse a última” – Marco Aurélio (121 d.C.-180 d.C.) imperador romano, conhecido como o imperador-filósofo, um dos principais nomes do Estoicismo.
Por Victor Lima Dias. Graduado em Ciências Contábeis; pós-graduado em “Coaching Ontológico, Comunicação Efetiva e Mediação de Conflitos”, e atualmente estuda Licenciatura em Filosofia na Ítalo.
Leitura simples e com uma qualidade incrível.
Gostei muito. Leitura de grande prazer e aprendizado. Forma bem planejada!
Gostei, aprendi bastante, obrigada.