Lc 18, 1-8; 9-14 – Parábolas do juiz iníquo e da viúva importuna e a do fariseu e do publicano no Templo
Em cada episódio da vida, Jesus narra o que Deus é para nós: bondade e misericórdia. Parábola viva do divino Juiz, o Pai celestial, Ele espera que jamais alguém seja surdo à voz de Deus e à voz dos que clamam por justiça.
Aliás, as palavras do juiz, diante da pobre viúva, são espantosas: “Eu não temo a Deus e não respeito homem algum”. Mais do que simples figura de linguagem, elas expressam a dureza de coração e o orgulho autossuficiente daqueles que se julgam acima de todos, intocáveis e únicos intérpretes da verdade.
O encontro da viúva com o juiz não foi uma simples ocorrência; foi um confronto de liberdades, de embates, de busca no encontro de amor e de doação de si mesmo. Injustiçada e lesada em seus direitos, a viúva se sente incapaz de ser ouvida. Sem poder fazer pressão por influências, muito menos dar presentes àquele juiz iníquo e interesseiro, só lhe restava retornar, pacientemente, por diversas vezes, à sua presença.
O antídoto para abrir o coração do juiz, não era outro, era o mesmo, oferecido por Jesus ao fariseu: a humildade. De fato, no Templo, o fariseu jamais admitindo a necessidade de uma purificação interior em sua presunção e vaidade, vangloriava-se do que tinha realizado. Coberto pelo véu da vaidade e do orgulho, blasonava-se da observância estrita das múltiplas interpretações da Lei (halakha).
Ao invés dele, reconhecendo sua condição pecadora, o publicano, com sua prece confiante e humilde, é acolhido e justificado por Deus. A seu respeito, escreve S. João Crisóstomo: “Porque Deus não ouviu simplesmente suas palavras, mas também leu a alma daquele que a proferia e, encontrando-a humilde e contrita, Ele a julgou digna da sua compaixão e do seu amor”.
Ao ouvir estas parábolas, percebemos que a melhor garantia de ser ouvido por Deus e receber seus dons é a oração perseverante. O exemplo é dado pela viúva, que, perseverantemente, vai à casa do juiz iníquo até que ele a atenda. Uma certeza nos é dada por Jesus: “Deus fará justiça bem depressa”.
Santo Agostinho, que captou essas palavras do Mestre, nos lembra: “O Senhor quis que da atitude do juiz iníquo se deduzisse o modo como Deus, bom e justo, trata com amor os que recorrem a Ele pela oração”. E, exortando seus ouvintes, diz S. Cirilo de Alexandria: “Como poderá, Aquele que ama a misericórdia e odeia a iniquidade, que sempre estende sua mão salvadora aos que o amam, não acolher os que se achegam a Ele dia e noite?”.
Prof. Dr. D. Fernando Antonio Figueiredo, bispo emérito de Santo Amaro