Enfim, estamos diante do ponto mais alto da liturgia da Santa Igreja. O Tríduo Pascal se inicia hoje, Quinta-feira Santa com a Missa de lava pés e a instituição do sacerdócio, segue na Sexta-Feira Santa com o ofício da Paixão, e termina no Sábado de Aleluia. Nós do Instituto Newman desejamos a todos um santo e abençoado Tríduo, no qual possamos verdadeiramente crescer no amor a Deus, unindo-nos ao sacrifício de Cristo na Cruz. Esperamos que o artigo de hoje nos ajude a viver da melhor forma o Tríduo Pascal; e que seja útil para meditarmos sobre o único necessário nesses dias. Deus abençoe a todos.
Pe. Ed Broom, OMV, Catholic Exchange | Tradução: Equipe Instituto Newman
O Tríduo
A cada ano, Deus nos concede inúmeras bênçãos, especialmente no período da quaresma, e na Semana Santa, que culmina na Páscoa — a Ressurreição de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, seu triunfo sobre o pecado, sobre o demônio e sobre a própria morte.
O Tríduo Pascal consiste em três dias (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa, Sábado de Aleluia) que culminam na Páscoa. Os efeitos desses dias santos, porém, são diretamente proporcionais a três atitudes nossas: a disposição interior de nossa alma, a abertura à graça de Deus e a docilidade às inspirações do Espírito Santo. Em outras palavras, um cristão fervoroso e praticante terá uma colheita muito mais abundante do que um cristão não praticante.
Vamos oferecer aqui algumas ideias, reflexões e desafios curtos e simples para obter os frutos mais abundantes desses dias santos e chegar a uma transformação autêntica de nossas vidas; para que possamos dizer, como São Paulo: “vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
A generosidade de espírito
Em primeiro lugar precisamos desenvolver a magnanimidade. Essa é uma palavra-chave na espiritualidade inaciana. De forma simples, significa generosidade de espírito. Santo Inácio de Loyola, nas anotações para o diretor dos exercícios, enfatiza a importância primordial de o exercitante (aquele que está fazendo os exercícios espirituais) cultivar a magnanimidade — grande generosidade de espírito.
Da mesma forma, devemos entrar na Semana Santa com essa disposição de espírito: a magnanimidade! Em outras palavras, devemos mergulhar nestes sagrados mistérios pascais do sofrimento, da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus com um ardente desejo de amar verdadeiramente a Deus, totalmente, sem reservas, com cada célula de nosso ser! Devemos viver a Semana Santa como se fosse a última de nossas vidas — pois somente Deus sabe quando será nossa última Semana Santa.
Quinta-feira Santa
Neste dia, comemoramos com amor, admiração, ternura e gratidão além da expressão humana a instituição de dois sacramentos, generosamente concedidos a toda a humanidade das profundezas do Sacratíssimo Coração de Jesus para nossa santificação e salvação: a Santíssima Eucaristia e a Ordem (o sacerdócio). Portanto, a disposição e o movimento mais lógicos de nossos corações devem ser de louvar e agradecer a Nosso Senhor Jesus por ter concedido à Igreja, até o fim do mundo, o maior de todos os dons — a Santíssima Eucaristia, que podemos receber na Sagrada Comunhão todos os dias (se estivermos devidamente dispostos).
Ora, devemos ter certeza e convicção de que a Santíssima Eucaristia é verdadeira e substancialmente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus, o Senhor. De modo que “Eucaristia” significa “ação de graças”. Assim, todo o nosso ser deve transbordar com a mais exaltada e sublime expressão de ação de graças!
O sacramento da ordem
No mesmo dia e no mesmo contexto histórico, Jesus instituiu também o sacramento da ordem — o sacerdócio católico. Isso aconteceu no cenáculo, na Última Ceia, a primeira missa, quando Jesus disse as palavras: “Fazei isto em memória de mim” (1Co 11, 24). Naquele exato momento, os apóstolos foram transformados nos primeiros sacerdotes e nos primeiros bispos. Desta forma, toda Quinta-feira Santa, ao participar da Missa da Última Ceia e do lava-pés, devemos orar pelos sacerdotes.
Nossas orações devem ser universais! Ou seja, devemos orar pelas vocações para o sacerdócio, pelos seminaristas que estão se preparando para receber o sacramento da ordem, e também pelos sacerdotes que já foram ordenados. Nossas orações devem elevar-se ao alto pelos jovens sacerdotes, pelos sacerdotes idosos e pelos sacerdotes doentes.
Além disso, devemos orar pelos sacerdotes tentados, pelos sacerdotes que têm muitas dúvidas, bem como pelos sacerdotes que caíram, para que retornem a Jesus, o Bom Pastor de suas almas. Com o coração pesado, Jesus orou: “Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe” (Lc 10, 2).
Lamentavelmente, muitas almas estão em risco e em perigo pela falta de trabalhadores, pela falta de sacerdotes santos e fervorosos. Na Quinta-feira Santa, com orações fervorosas e com o coração nas alturas, ore pelos sacerdotes. Ofereça sua própria Santa Comunhão por eles. Jesus anseia sinceramente por suas orações!
Sexta-feira Santa
Uma vez que na Quinta-feira Santa contemplamos Jesus, na Última Ceia, abençoando-nos com os Sacramentos da Eucaristia e do Sacerdócio, na Sexta-feira Santa, nossa atenção, nosso olhar e nossa contemplação devem elevar-se para o alto, para a cruz. Desta forma, devemos unir nossos corações com a famosa oração atribuída a São Francisco de Assis: “Nós te adoramos, ó Cristo, e te bendizemos porque, pela vossa Santa Cruz, redimistes o mundo”.
Assim, na Sexta-feira Santa você deve contemplar a cruz e a ressurreição. Passe algum tempo em silêncio diante de uma imagem gráfica de Jesus crucificado. Um aspecto específico digno de meditação e contemplação é o Precioso Sangue de Jesus!
Com amor, reverência, devoção e um espírito de reparação, contemple as várias feridas das quais jorrou o Precioso Sangue do Nosso Senhor. Comece pela cabeça coroada de espinhos. Pense na testa de Cristo perfurada, atravessada por espinhos tão longos e penetrantes que quase chegam ao cérebro. Espinhos que permitem um fluxo constante do sangue que Ele derramou para a sua salvação. É claro que Jesus sofreu sua Paixão mais excruciante por toda a humanidade, porém ele sofreu de forma individual e pessoal por você e por mim.
Mesmo que você fosse a única pessoa em todo o universo criado, Jesus o ama tanto que derramaria cada gota de seu Preciosíssimo Sangue para a salvação imortal de sua alma. Como você é precioso aos olhos de Deus. Quão precioso você é para o seu Sagrado Coração!
Contemple as mãos cravadas de pregos. As mãos que abençoaram as criancinhas, que tocaram e devolveram a visão aos cegos. Santas mãos, que tocaram nos leprosos, curando-os instantaneamente de sua doença incurável. Sagradas mãos que transformaram o pão e o vinho em seu Corpo e Sangue, e que agora estão pregadas na cruz, de onde seu Precioso Sangue escorre, pingando no chão.
Contemple os pés de Cristo. Os pés que caminharam para levar boas novas aos estrangeiros, aos abandonados, aos pobres e aos desprezados. Ele veio para libertar os cativos. E agora são seus santos pés que não podem mais se mover, apenas derramar sangue para que possamos trilhar os caminhos da pureza, da justiça e da paz.
E por fim, contemple seu Sagrado Coração. O Sacratíssimo Coração de Jesus, que foi perfurado pela a lança, é fonte de vida, da qual jorraram sangue e água, a fonte e o manancial de nossa vida sacramental. A água simboliza os sacramentos do Batismo e da Confissão. O sangue simboliza a Santíssima Eucaristia! Ó Senhor, que em todas as nossas adversidades, medos, angústias e sofrimentos, possamos sempre buscar nosso refúgio seguro em vosso Sagrado Coração, perfurado e aberto.
Sábado de Aleluia: O Coração Doloroso de Maria
Uma pequena sugestão para viver o Sábado Santo é viver esse dia tão especial com a Santíssima Virgem Maria!
Ora, muitos não compreendem o tom e os sentimentos que devemos cultivar no Sábado de Aleluia. O jejum, por exemplo, todos sabem que ele é obrigatório na Sexta-feira Santa, mas apesar de não ser obrigatório no Sábado, a igreja o incentiva. Esse dia não deve ser cheio de barulhos desnecessários, mas sim de silêncio, para cultivar um espírito contemplativo de oração.
Nossos pensamentos e nosso coração devem estar com a Mãe Santíssima, Nossa Senhora das Dores! A Igreja recomenda que passemos algum tempo de qualidade com Nossa Senhora, revivendo o que aconteceu no dia anterior. Ou seja, devemos entrar no Coração Doloroso de Maria, que estava aos pés da cruz, e reviver a paixão, o sofrimento e a morte de Jesus.
Em uma palavra, no Sábado de Aleluia, devemos contemplar em nosso coração a paixão de Cristo por meio dos olhos e do coração de Maria! Ninguém mergulhou mais profundamente no sofrimento e na paixão de Jesus melhor do que sua Imaculada Mãe Maria.
Para concluir, vivamos o Tríduo Pascal com magnanimidade. Entremos no Tríduo com grande amor e gratidão por Jesus, que se entregou por mim, derramando cada gota de seu preciosíssimo sangue por mim, como se eu fosse a única pessoa no universo criado. Ó Senhor, como é grande o vosso por nós!