Santa Ana, a mãe de Maria e avó de Jesus, é uma figura venerada na tradição cristã, embora seus detalhes biográficos não apareçam nas Escrituras. Este artigo explora as fontes extra-canônicas que mencionam Santa Ana, como o Protoevangelho de Tiago e os relatos místicos de Maria de Ágreda e Ana Catarina Emmerich. Através dessas narrativas, buscamos entender melhor a vida e o legado de Santa Ana, suas divergências e as interpretações ao longo dos séculos.
Pe. Edward Looney, Catholic Exchange | Tradução: Equipe Instituto Newman
Primeira Impressão da Estátua
Visitei a Inglaterra em 2023. Meu itinerário incluía muitas igrejas, mas uma estátua em uma delas chamou minha atenção. E eu não a vi apenas uma vez, mas em diversas ocasiões. Trata-se da imagem de Santa Ana, que segurava em suas mãos a criança Maria e o menino Jesus. Na primeira vez que a vi, e até mesmo na segunda, senti-me compelido a dar uma segunda olhada.
Ao olhar para ela, lembrei-me da obra A Mística Cidade de Deus, da Venerável Maria de Ágreda, que leio e comento diariamente em meu podcast. Lembrei-me vividamente do que Maria de Ágreda escreveu sobre a morte de São Joaquim e de Santa Ana enquanto Maria estava no templo. Isso se destacou em minha mente porque significava que Jesus nunca conheceu seus avós maternos. Eu não conseguia conciliar a estátua com esses fatos.
Questionamentos sobre Santa Ana
No entanto, essa experiência me levou a fazer a seguinte pergunta: o que exatamente sabemos sobre Santa Ana, a mãe de Maria, a avó de Jesus?
Os nomes de Ana e Joaquim não são mencionados na Bíblia, portanto, os relatos de suas vidas chegam a nós de forma extra-canônica. Seus nomes são mencionados em um texto apócrifo dos primeiros cristãos, conhecido como Protoevangelho de Tiago.
As fotas da vida de Santa Ana
O Protoevangelho não foi incluído no cânone das Escrituras porque seus relatos registrados parecem irrealistas e fantásticos. Por exemplo, uma de suas histórias descreve a mutilação de uma parteira que não acredita na virgindade perpétua de Maria. Embora algumas de suas histórias sejam descartadas, ele é mencionado como um texto fonte legítimo para pelo menos duas coisas: os nomes de Joaquim e Ana e a Apresentação de Maria no Templo. Portanto, nem tudo é de se jogar fora!
Além do Protoevangelho de Tiago, também podemos aprender sobre Santa Ana na obra A Vida da Virgem, de São Máximo, Confessor, e em dois biógrafos místicos, a Venerável Maria de Ágreda (mencionada acima) e a Beata Ana Catarina Emmerich.
Pronto evangelho de Tiago
Santa Ana é mencionada quinze vezes no Protoevangelho de Tiago. As principais referências dizem respeito à concepção de Maria — como Ana e Joaquim eram estéreis, como ambos oraram por um filho e, então, Deus lhes deu Maria. O Protoevangelho não fornece nenhum outro detalhe da vida de Joaquim e Ana, nem registra quando eles morreram.
A vida da Virgem por Máximo
Santa Ana tem pouquíssimas referências no texto de São Máximo. O autor procura reunir muitas das tradições que cercavam Nossa Senhora nas primeiras centenas de anos do cristianismo. Há um total de oito referências a Ana, todas elas relacionadas à sua maternidade de Maria. Não há menção sobre o restante de sua vida.
As biografias místicas
São as biografias místicas de duas mulheres santas que oferecem uma visão dos últimos anos da vida dos pais de Maria. Como mencionado acima, Maria de Ágreda escreve que Joaquim morreu enquanto Maria estava no templo, e Ana logo em seguida. Maria de Ágreda escreve que os anjos disseram a Maria que sua mãe morreria em breve. Os anjos transportaram Maria espiritualmente do templo, para que ela pudesse estar misticamente presente com a mãe no momento de sua morte. Os detalhes, como Maria de Agreda os descreve, são belos, incluindo uma oração que Maria ofereceu ao Pai Eterno por sua mãe (volume 1, parágrafo 718).
No entanto, o livro The Life of Jesus Christ and Biblical Revelations (A vida de Jesus Cristo e as revelações bíblicas), de Santa Ana Catarina Emmerich, contradiz o relato de Maria de Ágreda de várias maneiras, colocando em dúvida a autenticidade de ambos os relatos e forçando os leitores a escolher um em vez do outro.
Divergências nos Relatos
Em um ponto de divergência, Ana Catarina Emmerich afirma que Ana estava viva na época do nascimento de Jesus e interagiu com seu neto divino. Outra diferença em seu relato é que Maria não é a única filha de Santa Ana; Ana e Joaquim tiveram vários filhos, inclusive um antes de Maria nascer. Essas afirmações contradizem o Protoevangelho de Tiago, onde Ana lamenta sua esterilidade. Ana Catarina Emmerich afirma também que, depois que Joaquim morreu, Ana teria casado-se novamente e tido outros filhos. Basta dizer que Ana Catarina Emmerich apresenta uma história de Santa Ana que é muito diferente da que poderíamos esperar.
Reconciliando as relatos
Maria de Agreda viveu de 1602 a 1665, enquanto Ana Catarina Emmerich viveu de 1774 a 1824 — pouco mais de um século de diferença. Surpreendentemente, as teorias de Ana Catarina Emmerich não eram novas em sua época; elas já circulavam na época de Maria de Agreda. Maria reconhece a teoria, confirmando sua presença no século XVII, mas a rejeita completamente:
Com relação a essa grande e admirável mulher, como fui informada, alguns autores graves afirmam que Santa Ana se casou três vezes e que em cada um desses casamentos ela foi mãe de uma das três Marias; outros têm a opinião contrária. O Senhor me concedeu, somente por causa de sua bondade, grande esclarecimento a respeito da vida dessa santa afortunada; no entanto, nunca me foi dito que ela tenha se casado, exceto com São Joaquim, ou que tenha tido qualquer outra filha além de Maria, a Mãe de Cristo. (Vol. 1, parágrafo 724)
Conclusão
Podemos concluir que as histórias de São Joaquim e de Santa Ana chegaram até nós pela tradição. Como tal, é provável que haja diferentes lendas transmitidas, como se vê nos relatos desses místicos sobre a vida de Santa Ana. Cada biógrafo místico é um receptor e comunicador da tradição, mas os modos de suas recepções afetam suas revelações místicas. Às vezes, as revelações vinham em visões, outras vezes por meio de locuções interiores e outras ainda pelo fruto de sua própria meditação imaginativa e discursiva.
Embora apenas um relato esteja correto, não é necessário descartar as revelações dos outros. Posso dizer que Ana Catarina Emmerich desafiou minhas próprias crenças sobre os pais de Maria e os avós de Jesus. No entanto, apesar das diferentes tradições, a poderosa intercessão de Santa Ana permanece, assim como nossas devoções a ela. Continuamos fiéis crentes em nosso Senhor, na Santíssima Virgem e em Santa Ana, independentemente dos detalhes finais de sua vida na Terra. Talvez seja por isso que nosso Deus infinitamente sábio não incluiu os detalhes de sua vida nas Sagradas Escrituras.
O Autor
O Pe. Edward Looney é sacerdote da Diocese de Green Bay, teólogo mariano, autor, colunista, personalidade da mídia, podcaster, entusiasta de filmes e companheiro de peregrinação. Ele é o apresentador do podcast, Hey Everybody! It’s Fr. Edward. Você pode segui-lo nas mídias sociais com o nome @FrEdwardLooney.