O artigo abaixo é a transcrição de um vídeo do popular autor católico Peter Kreeft ao canal do YouTube da Prager University. Kreeft é um apologeta de primeira classe; seus livros sobre o assunto já passam de quarenta. Nessa brilhante explanação ele nos mostra que é racional creer em Deus, e, na verdade, acreditar que Deus existe não requer fé. Já o ateísmo exige fé, muita fé.
Peter Kreeft, Catholic Education Resource Center| Tradução: Equipe Instituto Newman
A Fé e a Razão
É racional acreditar em Deus? Muitas pessoas pensam que a fé e a razão são opostas; que a crença em Deus e o raciocínio lógico obstinado são como óleo e água. Todavia, elas estão erradas. Ora, a crença em Deus é muito mais racional do que o ateísmo. A lógica pode mostrar que Deus existe. Veja bem, se você observar o universo com bom senso e mente aberta, verá que ele está cheio das impressões digitais de Deus.
O Argumento de Santo Tomás de Aquino
Um bom lugar para começar é com um argumento de Santo Tomás de Aquino, o grande filósofo e teólogo do século XIII. O argumento começa com a observação não muito surpreendente de que as coisas se movem. Mas nada se move sem motivo. Algo deve causar esse movimento, e o que quer que o tenha causado deve ser causado por outra coisa, e assim por diante.
No entanto, essa cadeia causal não pode retroceder para sempre. Afinal de contas, ela precisa ter um início. Assim, deve haver um motor imóvel para dar início a todo o movimento no universo, um primeiro dominó para iniciar o movimento de toda a cadeia, uma vez que a mera matéria nunca se move por si mesma.
A Objeção da Mecânica Quântica
É claro que uma objeção moderna a esse argumento é que alguns movimentos da mecânica quântica — o decaimento radioativo, por exemplo — não têm causa discernível. Porém, espere um pouco. O fato de os cientistas não verem uma causa não significa que não exista uma. Significa apenas que a ciência ainda não a encontrou. Talvez um dia eles encontrem. Mas então terá que haver uma nova causa para explicar essa. E assim por diante. Entretanto, a ciência nunca será capaz de encontrar a primeira causa. Isso não é uma crítica à ciência. Significa simplesmente que a primeira causa está fora do domínio da ciência.
O Princípio da Causalidade
Outra maneira de explicar esse argumento é que tudo o que começa deve ter uma causa. Nada pode vir do nada. Portanto, se não há uma primeira causa, não pode haver segundas causas — ou qualquer outra coisa. Em outras palavras, se não há um criador, não pode haver um universo.
Mas e se o universo fosse infinitamente antigo, você pode perguntar. Bem, todos os cientistas hoje concordam que o universo não é infinitamente antigo — que ele teve um início, no que chamam de big bang. Ora, se o universo teve um começo, então ele não precisava existir. E as coisas que não precisam existir devem ter uma causa.
A Cosmologia do Big Bang
Esse argumento é confirmado pela cosmologia do big bang. Agora sabemos que toda a matéria, ou seja, todo o universo, surgiu há cerca de 13,7 bilhões de anos e vem se expandindo e esfriando desde então. Nenhum cientista duvida mais disso, embora antes de ser cientificamente comprovado, os ateus o chamassem de “criacionismo disfarçado”.
Agora, acrescente a essa premissa uma segunda premissa muito lógica, o princípio da causalidade, de que nada começa sem uma causa adequada, e você chegará à conclusão de que, como houve um big bang, deve haver um “big banger”, [ou seja, alguém que causou o big bang].
O Big Banger é Deus?
Mas será que esse causador, ou esse “big banger”, é Deus? Por que não poderia ser apenas outro universo? Por que a teoria geral da relatividade de Einstein diz que todo o tempo é relativo à matéria e, como toda a matéria começou há 13,7 bilhões de anos, todo o tempo também começou. Dessa forma, não há tempo antes do big bang. E mesmo que haja tempo antes do big bang, mesmo que haja um multiverso, ou seja, muitos universos com muitos big bangs, como a teoria das cordas diz ser matematicamente possível, isso também deve ter um começo.
Um começo absoluto é o que a maioria das pessoas entendem como “Deus”. No entanto, alguns ateus consideram a existência de um número infinito de outros universos mais racional do que a existência de um criador. Não importa que não haja nenhuma evidência empírica de que qualquer um desses universos desconhecidos exista, muito menos mil ou um bilhão ou um quadrilhão.
A Resistência à Conclusão Divina
Até onde os cientistas irão para evitar a conclusão de que Deus criou o universo? Veja o que o físico de Stanford Leonard Susskind disse: “Os verdadeiros cientistas resistem à tentação de explicar a criação por meio de intervenção divina. Resistimos até a morte a todas as explicações do mundo baseadas em qualquer coisa que não sejam as leis da física”.
No entanto, o pai da física moderna, Sir Isaac Newton, acreditava fervorosamente em Deus. Acaso ele não era um cientista de verdade? Será que é possível acreditar em Deus e ser um cientista, e não ser uma fraude? De acordo com Susskind, aparentemente não. Então, quem exatamente são as pessoas de mente fechada nesse debate?
Conclusão: Razão e Fé
Assim, a conclusão de que Deus existe não requer fé. O ateísmo sim, exige fé. É preciso ter fé para acreditar em tudo que vem do nada. É preciso apenas razão para acreditar em tudo que vem de Deus.
O Autor
Peter Kreeft, Ph.D., é professor de filosofia no Boston College e The King’s College. Convertido ao catolicismo, ele é autor de mais de oitenta livros sobre filosofia, teologia e apologética cristãs. Ele também formulou, junto com Ronald K. Tacelli, Twenty Arguments for the Existence of God (Vinte argumentos para a existência de Deus) em seu Handbook of Christian Apologetics (Manual de apologética cristã).