No artigo de hoje, Ashley G. Miller explora a importância da leitura em nossa sociedade moderna, destacando como a prática de ler bons livros pode trazer prazer, utilidade, verdade e até mesmo nos mostrar o caminho para a salvação de nossas almas. Este é o primeiro de uma série de dois artigos, e ainda nesta semana publicaremos a segunda parte, onde discutiremos mais profundamente os benefícios emocionais e sociais da leitura, bem como sua relevância no contexto do cristianismo. Fique atento para não perder a continuação desta reflexão essencial.
Ashley G. Miller, Crisis Magazine | Tradução: Equipe Instituto Newman
A importância da leitura e a crise atual
Ler bons livros pode ajudar a salvar sua alma. Talvez você não saiba, mas a educação liberal e o cristianismo compartilham a busca da verdade. Pois bem, com o influxo torrencial de entretenimento eletrônico e o foco em disciplinas e pedagogias baseadas em STEM [1], as pessoas hoje estão lendo menos livros do que nunca.
Trata-se de uma das grandes crises de nosso tempo. A pesquisa anual do National Endowment for the Arts [2] constatou que apenas 43% dos adultos dos Estados Unidos leem obras literárias. Provavelmente, menos ainda estão lendo os grandes livros, no entanto, nossa cultura necessita, mais do que nunca, daquilo que os livros proporcionam a uma pessoa. A leitura oferece prazer, utilidade, verdade e salvação.
O Prazer da Leitura
Sempre gostei de ler pelo prazer da leitura. Sempre usei com orgulho o título de “rato de biblioteca”, mas só queria ler porque era divertido. Como eu lia vorazmente, aprendia vorazmente, mas isso era um subproduto acidental. Mas, não percebi o quanto estava aprendendo sobre a condição humana. De fato, eu simplesmente gostava de livros e gostava de histórias. Eu as achava imensamente prazerosas. Ora, as histórias e os personagens eram emocionantes; aventura, mistério, contos de fadas e fantasia eram as drogas que eu não me cansava de consumir.
A leitura como diversão e escolha de carreira
Certamente, não passava pela minha cabeça que ler algo pudesse me ajudar a conseguir um emprego, ou descobrir a verdade sobre minha humanidade, ou até mesmo encontrar a salvação eterna. Apesar do componente religioso da minha educação, eu só gostava de ler por diversão. Nunca tive uma única dúvida de que queria me formar em letras na faculdade.
Assim, minha decisão de estudar inglês não foi uma busca nobre; eu só queria desfrutar do prazer dos livros. Nunca pensei que os livros fossem muito mais do que prazer. Eu me esquivava das perguntas “O que você vai fazer com esse curso?”, não porque defendesse com orgulho as artes liberais, mas porque orgulhosamente não me importava.
Descobrindo a grandiosidade da leitura
Lembro-me do primeiro dia da minha primeira aula de inglês na faculdade; fiquei impressionado com a explicação do meu professor sobre por que deveríamos ler a Ilíada. Ele explicou como ela tem sido a pedra fundamental da educação por mais anos do que podemos contar. Na época, eu não era um pensador profundo e “prazer” era uma resposta boa o suficiente para explicar por que deveríamos ler. Porque é simplesmente incrível, é por isso.
Desde aquela aula, minha compreensão da grandiosidade da leitura evoluiu. Ainda mantenho que o prazer pode ser um fim digno em si mesmo, mas ele foi substituído por um objetivo de suma importância — a verdade. Devemos ler livros para descobrir a verdade.
A Educação Superior e a Busca pela Verdade
O tema da verdade nem sempre entra em uma discussão contemporânea sobre educação, especialmente sobre o ensino superior. Em geral, as pessoas hoje veem a faculdade como algo utilitário. Ora, mede-se as taxas de sucesso das universidades não pelo número de epifanias que seus alunos experimentam enquanto estão matriculados, mas pelo número de empregos após a formatura.
Enxerga-se a faculdade somente como um campo de treinamento para um emprego. Isso leva muitos a perguntar ao estudante de artes liberais: “O que você vai fazer com isso?” A falta de uma carreira clara, exceto talvez o ensino (não lucrativo), faz com que a ideia de uma educação liberal no mundo moderno seja analisada e ridicularizada como inútil ou até mesmo estúpida.
O propósito mais elevado da educação liberal
Há muitas refutações válidas a esse escrutínio — que geralmente é uma crítica condescendente, e não uma investigação cuidadosa — inclusive o fato de a educação liberal servir a um propósito mais elevado do que a simples utilidade profissional. Muitos, como o escritor B.D. McClay, explicam que uma educação liberal é aquela “destinada a libertar os alunos em um sentido mais elevado”.
Uma definição de dicionário explicará que as artes liberais se concentram no conhecimento geral e no fornecimento de capacidades intelectuais gerais em vez de habilidades profissionais ou vocacionais. Michael Lind, em “Why the Liberal Arts Still Matter” [Por que as artes liberais ainda são importantes], apresenta uma história concisa da educação liberal, explicando como o reino da educação liberal era o reino da elite — pessoas que eram livres para estudar em geral por causa de sua classe social e riqueza, e que tinham o dever de fazê-lo por causa de suas responsabilidades eleitorais.
Benefícios de uma educação liberal
O objetivo original da educação superior, que sempre foi uma educação liberal, era produzir “líderes cívicos versáteis e bem preparados que compartilhassem uma tradição cultural comum”. Independentemente do fato de uma educação liberal conferir liberdade, capacidade intelectual, cidadania consciente ou todos os itens acima, uma educação liberal é inegavelmente um bem, se considerarmos os benefícios que ela proporcionará e não os que não proporcionará.
Entretanto, o argumento de que os estudantes universitários contemporâneos devem se afastar das artes liberais com medo de ficarem desempregados ou sem teto é muito exagerado.
Referências
- N.T: Usa-se a sigla STEM em Inglês para designar as quatro matérias escolares consideradas de suma importância nos currículos atuais e na pedagogia moderna. Tratam-se da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática; se pegarmos as primeiras letras de cada uma delas, science, technology, engineering, and mathematics temos STEM. A palavra stem, em letras minúsculas, entretanto, tem outros significados, como tronco ou caule.
- N. T: O National Endowment for the Arts é uma agência independente do governo federal dos Estados Unidos que oferece apoio e financiamento para projetos que exibam excelência artística.
Autora
Ashley G. Miller obteve o título de Mestre em Literatura Inglesa pela Universidade de Dallas e, depois de anos lecionando inglês em escolas católicas de ensino médio, agora é editora e escritora freelancer.